segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma Alice em minha vida



Uma das coisas mais legais da minha infância, foi o incentivo à leitura que a minha família sempre deu. Eu lembro de ganhar livros antes mesmo de começar a ler. Adorava ver aquelas figuras bonitas e coloridas e imaginar tudo o que a estória estava contando. Depois que aprendi a decifrar o que elas diziam, minha fascinação por esse mundo só aumentou: era o meu passaporte pra visitar outras realidades e fantasias por aí à fora.

Um dos primeiros livros que ganhei foi o da "Alice no País das Maravilhas" e, por algum motivo, sempre foi o meu preferido. Talvez por fugir do clichê de "princesa-bela-e-frágil-é-maltratada-por-uma-bruxa-velha-e-malvada-e-come-o-pão-que-o-demo-amassou-até-ser-salva-por-um-lindo-príncipe-encantado-e-viver-feliz-para-sempre".  Claro que eu sonhava com os meus "príncipes" (a maioria deles com o nariz escorrendo e enlouquecendo a vida das professoras), mas o resto da maioria dos contos de fadas sempre foi regular demais. Quer dizer: é fácil separar a boazinha e bonita, a recalcada e feiosa e alguém que surge do nada, em um lindo cavalo branco, com o cabelo penteado e o sorriso trabalhado no Colgate Whitening, mesmo depois de diiias cavalgando (imagina o cheiro dessa criatura, acho que foi por isso que a Bela Adormecida acordou) atrás do seu grande amor, para livrá-la de todas as mazelas de sua triste sina de princesa amaldiçoada. É tudo  como se fosse uma máquina, com  movimentos minuciosamente controlados produzindo o mesmo objeto no final. É perfeito demais pra ser vida.

Claro que eu não tinha essa consciência com 7 anos de idade, mas sempre teve algo que não cheirava bem nessa história toda, e não estou falando só do príncipe. Eu sou filha de pais separados desde que tinha 1 ano de idade, então sabia que nem todos os casais eram felizes para sempre. Eu era gordinha, feinha e desajeitada, por isso percebi que nem todas as "bruxinhas" eram malvadas. E os guris que eu conhecia estavam muito abaixo da linha do SAPO, e desconfio que nem uma bitoquinha iria adiantar muita coisa pra melhorar a situação deles.

Já a Alice, ela sempre foi diferente. Curiosa, ela foi atrás do impossível: um coelho de casaca e que sabia ver as horas? Por que não? Aí ela entra numa viagem muito louca onde encontra os seres e lugares mais estranhos nunca imaginados, onde ela diminui de tamanho, cresce mais do que deveria e quase se afoga em suas próprias lágrimas. Todo o tempo ela se questiona, é questionada pelos outros, é condicionada à fazer coisas que não entende, mas no fim das contas é ela quem faz suas próprias escolhas e acaba salvando o dia. Ela é a princesa, é a bruxa, é "o príncipe valente", é a heroína e a autora da sua própria história.

Muito mais interessante, né?

E mais: os personagens que fazem parte do País das Maravilhas são mais reais, apesar nenhum deles existir realmente. Eles são loucos, sábios, arrogantes, extravagantes, medrosos,  gananciosos e compassivos...o que é mais humano do que isso? Aí dá pra ver um movimento que os outros contos de fadas não tem. E o que é a vida, se não puro movimento?

 Acho que eu tenho citado e refletido tanto sobre a Alice, porque o meu momento é tão transitório quanto a sua história. Já estou seguindo meus próprios coelhos, só resta saber aonde eles irão me levar.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fome de quê?

Oi!

Esse é um texto que escrevi faz um tempinho...mas como achei ele perdido em um dos meus muitos cadernos, resolvi compartilhá-lo. 



"Meia-noite e meia, episódio antigo de House (os melhores), classificados jogados ao lado, mentiras sinceras atiradas no ventilador: fome.

Já fiz todas as misturas possíveis que a minha despensa e meu organismo permitiriam, mas a danada não passa. Tenho a sensação que eu poderia liquidar com todo o meu estoque de comida, e mesmo assim ela vai continuar me torturando pela madrugada inteira. 

Estou com o estômago vazio e não sei o que fazer com isso. Abro a porta da geladeira de hora em hora, vejo que tenho mais do que preciso realmente. Mas o que eu quero, que aliás, eu não sei o que é, não é nada daquilo que está lá dentro ao meu alcance.

Fome de quê? Quando acontece isso, o que tu faz? Come o primeiro "engana-barriga" que encontra pela frente ou fica sentada esperando finalmente entender o que é, ou até mesmo, a vontade passar?

Posso até não saber o que vai preencher o buraco no meu estômago, mas acho que mereço bem mais do que uma pizza fria de ontem, daquelas com cara de que vai me deixar com gosto de queijo rançoso na boca. Aliás, ninguém merece."

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Som do Silêncio






Tenho estado mais introspectiva do que o normal ultimamente. Até porque o meu "normal" não é ser assim. Ou pelo menos não aparenta ser. Eu falo demais, transpareço demais, mas podem acreditar: não é nem 25% do que eu penso, do que eu quero fazer ou mesmo dizer. O que me causa problemas até pra dormir, os pensamentos pipocam sem parar na minha mente e, pra melhorar , eles adoram fazer isso principalmente à noite e somando com a minha enorme "alegria" de acordar cedo, dificulta muito as coisas pra mim. Sempre foi assim, e pelo visto ainda vai ser por muito tempo. 


É, eu penso muito. Por mais impulsividades que eu já possa ter cometido, não achem que foi por falta de reflexão. À não ser quando o álcool ou alguma paixonite me atingem o cérebro, o que bloqueia boa parte da minha racionalidade.


Engraçado, todo mundo estranha o meu sumiço repentino e o meu silêncio. Sou a única pessoa na face da terra que sente em prazer em ficar sozinha? Que precisa dar um "stop" no tempo pra avaliar as coisas à minha volta? Dar-se um tempo, hoje em dia, é quase sacrilégio. Tempo o mais novo é artigo de luxo. Precisamos produzir, fazer, correr, correr e correr...pra onde? A gente tem tanta urgência de chegar à algum lugar, mas não sabemos nem aonde estamos. E pra tudo isso, é preciso um bocado de auto-conhecimento. 


 Apesar de eu ter uma teoria de que os seres humanos, em determinadas situações, são imprevisíveis até pra eles mesmos, isso não impede que possamos explorar nossas possibilidades. E o que tem me fascinado (e assustado também) é perceber o quanto elas são múltiplas. Dentro de um universo amplo, mas não infinito, podemos muito, muito mesmo. Mas temos vozes que cochicham e nos olham de viés, que riem da nossa cara, que mudam de calçada quando passamos na rua. Tem gente que simplesmente não acredita nem em si mesmo, por que acreditaria em ti? 


Viver é um ato egoísta. Curta as pessoas que passam pela sua vida, ame mais ainda as que decidem ficar por algum motivo e retribua sempre que puder. Mas não espere por elas, nem delas. E não faça ninguém esperar por você ou de você. Nem tudo é perfeito e raríssimas coisas duram pra sempre. E as que sobrevivem é porque aceitam suas imperfeições. 


Enfim, posso resumir minhas últimas três semanas em dias de descobertas e reinvenções. De levar o lixo pra fora, queimar velhas cartas e tentar dar uma cara nova ao que me é caro demais para descartar definitivamente. Sensibilidade transpirando, algumas lágrimas transbordando e sorrisos me escapando, sem querer. Tarde de chá e noites de vinho, e às vezes tardes de vinho e noites de chá. Egoísmo e altruísmo apostando corrida de revezamento. Muitas perguntas, algumas respostas e cada vez menos certezas. Oito ou oitenta tem sido pouco pra mim. Dias de carro esporte: indo de 0 à 200 km/h em apenas segundos. E, qualquer que seja a velocidade, sei cada vez mais aonde estou.