quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tudo sobre minha mãe - Freud, Almodóvar e uma ligação por mês

Quando se trata de explicar relações familiares - sobretudo, maternas - sorry Freud, mas prefiro o Almodóvar. Claro que dentro da teoria apimentada do espanhol, contém pitadas da psicologia freudiana. Entretanto, na análise do alemão, pouco podemos encontrar elementos "almodovarianos" (povo antigo que criou o drama familiar e a TPM). Ou seja, se fossemos usar a lógica: todo Almodóvar tem Freud, mas nem todo Freud tem Almodóvar. Ficou meio estranho isso...but, ok.

Bom, não sei se é comum, mas pelo menos a minha relação com a minha mãe tá bem mais pra drama espanhol do que psicanálise austríaca. Meus pais se separaram quando eu tinha um ano de idade, tentei morar com minha mãe, mas uma série de fatores levou-a à me deixar com minha avó materna, que é tão minha mãe quanto ela. Nos próximos 17 anos toooodas as férias eu viajaria umas sete horas de Arroio Grande (que já está presente no Google Maps, vejam só!), sul do Rio Grande do Sul pro litoral norte do estado, pra Tramandaí, minha cidade natal. Passava alguns meses lá curtindo minha mãe, irmãos e coisas que nem sonhava existir na cidade em que eu morava,tipo crepe e cinema.Aliás, minha primeira ida ao cinema foi com mamãe, aos 13 anos, ver aquele filme do 007 que tem a Hale Berry. Fofo, não? Nos meses restantes, nos falávamos por telefones de vizinhos, antes da minha avó comprar um telefone, que na época custava uma for-tu-na, tinha modelos de discar e era controlado pela CRT. E pra atestar mais ainda minha velhice: escreviamos cartas. As minhas eram sempre com papéis de carta ou folhas decoradas, com a minha letrinha irregularmente infantil, umas gotinhas de perfume roubado e muita saudade.

Quando fiz 18 e terminei o ensino médio, fui morar com minha mãe. Queria ter essa e outras experiências que até então não tinha provado. Sempre quis morar na praia, sempre quis morar com a minha mãe, sempre quis ir ao cinema mais de uma vez por ano. O problema é que descobrimos que não somos só parecidas fisicamente: o gênio ruim também é hereditário. Nesses três anos de convivência, brigamos bastante, nos testamos mutuamente e acho que ajudamos uma à outra à crescer um pouquinho. Toda a vez que eu quero ouvir a verdade de alguém eu pergunto pra ela. E sim, minha mãe sabe ser BEM imparcial.

Depois que me mudei pra Porto Alegre, muita coisa aconteceu na família, no meu mundo, no mundo dela  e acabamos nos afastando um pouco. E acho que a falta materna que eu senti pela minha vida inteira acabou explodindo com muita intensidade desses quatro anos pra cá. Por muitas vezes, tudo o que eu queria era correr pro colo da minha mãe e descansar um pouco a cabeça. Como tive poucas oportunidades de fazer, infelizmente.

Sei que ela confia em mim, mesmo me achando meio dispersa e não fazendo as provas de concurso público que ela tanto quer que eu faça, mas às vezes queria que ela se preocupasse mais. Sei lá, uma ligação por mês é difícil de engolir...É, minha mãe me liga uma vez por mês. E desconfio eu que seja só pra ter certeza de que eu ainda estou viva. Não, não queria uma relação de dependência que muitas pessoas tem com a sua, mas confesso que iria ser muito mais feliz se tu, Sra. Cleusa Regina, demonstrasse um pouco mais de interesse pela vida da tua confusa e #chatiada filha de 25 anos. E quando tu finalmente aprender a entrar num site, espero que tu leia isso e sinta muita, mas muita vergonha de, ainda por cima, me cobrar que eu não tenho um chip da Vivo e tu não tem cartão pra me ligar. Vergonha alheia define, Cleusinha.

E sugeriria também para nosso melhor entendimento a supressão dos seguintes tópicos:

1- A possibilidade inexistente de eu fazer um concurso público antes de me formar;
2- O fato da minha avó ainda me ajudar financeiramente;
3- Me lembrar de como sou exigente (?), como o tempo está passando e como eu estou encalhada. Se minha mãe faz isso estando eu na flor dos 25, se eu chegar aos 30 solteira, ela começa a vender meu dote no Mercado Livre. Se até lá ela descobrir o que é e pra quê serve o Mercado livre, é claro.

Mas apesar de tudo, faria qualquer coisa por ela e com certeza, sei que devo muito do ser humano que eu sou à esta enfezada criaturinha de um metro e meio, despenteada e constantemente mal-humorada, que é minha mammys.

Uma intensa escorpiana e uma teimosa taurina, nascidas pra ser mãe e filha. Almodóvar pode até imaginar, mas essa nem Freud explica.




domingo, 22 de julho de 2012

Dois estranhos


Dois estranhos chegaram acompanhados de dois amigos em um lugar cheirando à licor e cerveja.
Dois estranhos se entreolharam à meia-luz e deram um meio-sorriso. Ela olhou pro chão de madeira procurando por alguma ousadia por ali perdida, enquanto ele tentava fitar seus olhos em busca de uma resposta.
Palavras já eram desnecessárias, mas uma vez que a primeira delas foi pronunciada, tudo em volta ganhou uma nova cor, uma nova música, como se o som cada uma delas produzisse um novo encantamento.
Depois de copos vazios, sílabas gastas, uma verdade inconveniente e quase dois erros comuns, o inevitável toma a forma de um pegar de mãos hesitante e um beijo atrapalhado, que tornou-se perfeitamente exato três segundos depois.
Dois estranhos saíram pelas ruas abraçados como se se conhecessem a vida inteira, descobrindo cada pedaço de calçada e de si mesmos sem pressa, porque sabiam que aquela noite poderia durar uma vida no espaço de algumas horas inúteis.
Dois estranhos se olharam, sorriram, conversaram, se beijaram se abraçaram e prometeram nunca mais se ver.
Afinal de contas, eles nunca passaram mesmo de dois estranhos.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ces't la vie!

Odeio esse negócio de hora certa. Desconfio de horas que não se possam controlar pelo relógio. Tento me livrar da minha ansiedade-pão-com-cream-cheese, mas às vezes é inútil. É possível alguém gostar tanto da dúvida e  detestá-la com a mesma intensidade?

Preciso parar de pensar um pouco, tudo me deixa ansiosa ultimamente, tô me sentindo uma corda de violino: o mínimo toque me faz tremer. E ao mesmo tempo, preciso me planejar mais, parar de ser relapsa com coisas importantes. É quase como sentir antecipadamente o peso da responsabilidade sem assumí-las de verdade. 

O negócio é que eu ando precisando delas pra ser eu, bem, o "eu" que eu sou e quero ser. Porque já não sirvo mais para mim mesma, como antigamente. Agora tenho a necessidade de me acontecer pra vida, e não deixar a vida simplesmente acontecer. 

Nem cocaína, nem crack ou alguma outra dessas pílulas sintéticas modernas: hábitos são as drogas mais difíceis de largar, eles te fazem acreditar que precisa deles pra sobreviver. Mas como qualquer outra  dependência, só depende do "viciado" resolver o que vai ser: controlar ou ser controlado.

O fato é que pouca coisa me influencia ultimamente, além de mim mesma. Tanto que já não serve mais,e eu não sei se sinto falta da comodidade de querer coisas conhecidas ou me encanto com a possibilidade de pisar no escuro, em terrenos inóspitos. É engraçado que, por mais que as coisas não sejam como queremos, muitas vezes preferimos o que já sabemos onde vai terminar. Quem diria que a insegurança também pode ser boa?

O mundo é um alvo cravejado de tiros no escuro...

...ces't la vie!