quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ser feliz dá medo

Dá medo sim.
E quem não admite, é porque nunca se sentiu tão feliz assim
É um balão cheio de ar voando no infinito
E o medo de encontrar um agulha no meio do caminho
Uma vez cheio de ar, ele não quer mais o vazio de antes
E sabe, acho que a gente teme mais o que já conhece
O desconhecido é sempre um mistério
É como o céu em que o balão flutua
Nunca se sabe, nunca se sabe
Onde ele vai parar
Norte, Sul, ilha, Finlândia, nascente, Joaçaba, floresta 
E de repente ele esquece:
Do medo, da agulha, do ar, do vazio
Ele só sente
Enquanto lá embaixo todos só observam.



 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Menos...é mais?

Mais dia e menos noite.
Menos Martha e mais Bukowski.
Mais água e menos café.
Menos lisos e mais ondas.
Mais salada e menos cachorro quente.
Menos pretos e mais brancos.
Mais olhares e menos sorrisos.
Menos ação e mais reflexão.
Mais Amy e menos Joss.
Menos dúvida e mais clareza.
Menos eu, ou eu mais? 

Mais, menos. Menos, mais. Sempre que aumenta ou diminui algo na gente, se cresce ou se volta atrás? Tenho medo de cortar o essencial e ir me picotando aos poucos até não sobrar nada de mim. Como dizia Clarice, temos que tomar cuidado com o que cortamos em nós, mesmo as partes ruins,  "pois nunca sabemos qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro". Tenho medo, também, de não me podar e deixar minhas ervas daninhas crescerem ao redor.

É preciso menos medo, talvez. E, quer saber? Esquece o talvez. Só esquecer já tá bom.

sábado, 25 de agosto de 2012

O Reformador do Mundo


"Fui convidado a me retirar
Do clube dos que não acreditam
Perdi meu direito a comparecer
Nas reuniões de quem só reclama." 
- Suicídio ao Contrário, Tópaz - 

Tão cômodo ficar reclamando das coisas e das pessoas como se tudo fosse ao contrário do que deveria ser. Ou de como a gente acha que deveria ser. 
Sabe qual o erro nessa história? A comparação recorrente da nossa vida com a vida das outras pessoas. O vizinho passa menos dificuldades do que nós e por isso é um FDP, filhinho de papai, privilegiado, nasceu com a bunda virada pra Lua. "Tudo na vida dele dá certo e pra mim as coisas sempre dão errado? Será que eu servi Nova Schin na Santa Ceia? Só pode!". Ou o cara é um sofredor, coitado, comeu o pão que o diabo amassou, mas pobrezinho, não tem culpa do que acontece com ele, é mais uma vítima desse mundo cruel e da sociedade falida. "E por isso, eu tenho que me conformar com a vida que eu tenho, podia ser pior né?"

Quando se fala em "vitimização", a tendência é pensar que é sempre do outro, que se faz de miserável pra não assumir a culpa. Mas não. Mesmo sem perceber acabamos vitimizando as outras pessoas também para nos sentirmos melhor com a nossa vida que, talvez não seja do jeito que queremos, mas também não é tão ruim quanto à do carinha ali. E conformismo também é uma forma de reclamação. Meia-reclamação na verdade. Tu começa: "Nossa isso não tá legal, queria que fosse diferente...melhor não, vai que estraga tudo? E prefiro que as coisas continuem do jeito que são, do que mudem pra pior." Tu para no meio da frase, mas por dentro grita e anseia pra que algo aconteça, sem mover um dedo pra isso (comofaz?).

O mundo é aquilo que ele é, porque nós fazemos dele o que ele é. O meu mundo e o teu mundo também. Muda é a forma como cada um enxerga ele. E formas de visão,vish! Tem tantas...

Tem gente míope, que precisa que as coisas estejam bem na sua frente pra poder ver bem, porque se estiverem longe, perde totalmente o foco. E aqueles com astigmatismo, que não enxergam um palmo na frente  do seu nariz, mas conseguem analisar muito bem as coisas à distância. Não podemos esquecer de quem sofre de catarata, que piora todos os ângulos de observação. Citei os mais populares até aí, mas existem mais. E nem um que venha à ser citado será pior do que o cego. O cego não enxerga mal, ele simplesmente não consegue fazer isso, independente da distância.  Lembrando que estou excluindo os casos de deficiência visual, falo é daquele que consegue ver, mas não enxergar. E esse é o tipo mais terrível de cegueira. 

Poderia muito bem citar o Saramago aqui nesse texto, pra ficar CUlt. Mas sabe o que me vem à mente quando penso nesse assunto? O "Reformador do Mundo", uma fábula do Monteiro Lobato, que eu lembro ter aprendido nas séries iniciais e que nunca, nunca mais esqueci. Ela falava sobre o Américo Pisca-Pisca: 

"Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de pôr defeito em todas as coisas. O mundo para ele estaria errado e a natureza só fazia asneira.
- Asneira , Américo?
- Pois então?... Aqui mesmo, neste pomar, você tem a prova disso. Ali está uma jabuticabeira enorme sustentando frutas pequeninas, e lá adiante vejo uma colossal abóbora, presa ao caule de uma planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o contrário? Se as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas, passando as jabuticabeiras para a aboboreira e as abóboras para a jabuticabeira. Não tenho razão?
Assim discorrendo, Américo provou que tudo estava errado e só ele era capaz de dispor com inteligência o mundo."


Então, nosso querido amigo resolve se encostar à sombra da tal jabuticabeira "toda errada" pra tirar uma soneca. Enquanto o bobão sonha com um planeta perfeito, uma jabuticaba cai em cima do nariz dele. Aí a criatura acorda pra vida e percebe que talvez as coisas não sejam tão ruins, seguindo sua vida à piscar, agora reclamando menos e agindo mais. 

Moral da Estória 1: Para de reclamar das coisas que tu não pode mudar e te concentra naquelas que tu pode (as que vão realmente acrescentar alguma coisa e melhorar a tua vida). 

Moral da Estória 2: Quem muito espera as jabuticabas caírem em cima do nariz pra cair na real, pode acabar levando uma ABOBORADA na cabeça. 

E agora eu vou parar de reclamar de quem reclama e me fazer feliz com uma enorme xícara de café. É pouco? É. Mas me faz feliz. 





quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Não era sentimento...era TPM.

Ser mulher definitivamente não é para os fracos.

 Além de engravidar/dar à luz/ser mãe, muitas vezes ter jornada dupla, ou seja, trabalhar na rua, em casa  e comprovadamente ganhar menos por isso, ainda temos o prazer imenso de viver este período FILIZ , em que nossos hormônios reduzem os neurônios à insignificantes "slaves".

Mas né, não basta só sangrar durante cinco dias. Não! Alguns dias antes o teu corpo ainda te faz o favor de se preparar psicologicamente pra enlouquecer de vez! Começa com aquela vontade estranha de ver pela vigésima vez os clássicos da comédia romântica da "Sessão da Tarde"(aquelas mesmo, que tu já sabe o final de trás pra frente e mesmo assim chora que nem uma louca), deixando aquela barra de chocolate "escorregar" (ops!) pra dentro do cestinho no super e criando uma playlist com músicas da Kate Perry, James Blunt e Nickelback. Não contando, claro, o famoso e enorme inchaço que eleva ainda mais a tua auto-estima tão grande nesse período - só que ao contrário. Ah, e lembra aquele vinho fazendo aniversário na geladeira? Vai embora mais rápido que a tua ressaca no dia seguinte.

Qualquer semelhança com o vídeo abaixo NÃO é mera coincidência. E bitch, controle-se pra não molhar o teclado, please.


All by myseeeeeeelf, don't wanna be...Todas canta!

Óbvio que cada uma sente os efeitos de um jeito diferente, tem até umas extraterrestres privilegiadas que não sofrem de TPM, que devem ser as mesmas vacas que comem um boi pela perna e não engordam, mas no geral, quase todas apresentam algum sintoma relevante.

Eu, por exemplo, choro demais, fico furiosa por nada, fico eufórica por qualquer besteira, a minha insegurança dobra de tamanho e eu acabo ficando ciumenta e desconfiada, o que eu acredito que sentir em doses humanamente normais no resto do mês. É como se tudo ganhasse uma dimensão bem mais ampla do que tem na realidade. Não é a toa que acabo lendo mais Clarice Lispector nessa época do que em qualquer outra do mês. E escrevendo mais também, o que acaba sendo bom, porque assim eu mantenho minhas mãos ocupadas e evito de usá-las para socar a cara de algumas pessoas que ficam particularmente irritantes nesse momento tão mágico da vida. Ah, o auto-controle!

Mas é interessante de tu pensar que talvez, além de expulsar materiais "não-utilizados" no teu corpo, tu possa estar botando pra fora tudo aquilo que teve que guardar por conveniência ou convivência. A "loucura temporária" pode ser uma forma de exorcizar todos os demônios que ficavam te alfinetando por dentro. É uma insanidade momentânea que contribui pra ti continuar com ela no restante do tempo. 

Poder fazer a louca e ainda ter uma desculpa cientificamente comprovada pra isso.

É... ser mulher não é para os fracos: é para os espertos.




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A insônia nossa de cada noite

Aqui estou eu, acordada em mais uma madrugada insone que tô lutando pra que não vire hábito. Meus horários de sono (e do resto também) estão totalmente fora de ordem. Há dois dias durmo cedo, leia-se dez horas da noite, e acordo lá pela uma hora da manhã, sem sono, ansiosa, com fome e meio perdida na vida.

Estar novamente sem emprego é uma tentação pros meus antigos hábitos noturnos. Antigos, porque desde que meu quarto quando adolescente ganhou uma televisão, um computador e alguns livros, eu peguei gosto por esse negócio de dormir tarde. Acostumei tanto, que hoje em dia até meu cérebro funciona melhor à noite. O que não é nada legal pra quem tem que cumprir horários comerciais.

E a ansiedade piora tudo: tenho comido muito à noite e tido uns sonhos meio bizarros. Noite passada sonhei com várias janelas de catedral (?). Tudo parecia uma apresentação de slides, com figuras de janelas, uma atrás da outra. Preciso pesquisar o que isso significa.

Não sinto a mínima vontade de dormir, mas como amanhã é segunda-feira , o Dia-nacional-dos-desocupados-acharem-algo-pra fazer, vou fazer um esforcinho e ir me deitar. Enquanto minha colega termina de finalizar dois processos antes de ir trabalhar. Insônia sozinha é uma coisa, agora acompanhada é phoda de combater. Mulheres SEMPRE tem algo pra conversar, mesmo às quatro e quarenta da manhã, mesmo que se vejam o dia inteiro, principalmente quando estão sob o efeito de uma overdose de cafeína.

E finalmente, lá vou eu pra minha cama quentinha, confortável e desarrumada. Bom Dia, dia!



quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tudo sobre minha mãe - Freud, Almodóvar e uma ligação por mês

Quando se trata de explicar relações familiares - sobretudo, maternas - sorry Freud, mas prefiro o Almodóvar. Claro que dentro da teoria apimentada do espanhol, contém pitadas da psicologia freudiana. Entretanto, na análise do alemão, pouco podemos encontrar elementos "almodovarianos" (povo antigo que criou o drama familiar e a TPM). Ou seja, se fossemos usar a lógica: todo Almodóvar tem Freud, mas nem todo Freud tem Almodóvar. Ficou meio estranho isso...but, ok.

Bom, não sei se é comum, mas pelo menos a minha relação com a minha mãe tá bem mais pra drama espanhol do que psicanálise austríaca. Meus pais se separaram quando eu tinha um ano de idade, tentei morar com minha mãe, mas uma série de fatores levou-a à me deixar com minha avó materna, que é tão minha mãe quanto ela. Nos próximos 17 anos toooodas as férias eu viajaria umas sete horas de Arroio Grande (que já está presente no Google Maps, vejam só!), sul do Rio Grande do Sul pro litoral norte do estado, pra Tramandaí, minha cidade natal. Passava alguns meses lá curtindo minha mãe, irmãos e coisas que nem sonhava existir na cidade em que eu morava,tipo crepe e cinema.Aliás, minha primeira ida ao cinema foi com mamãe, aos 13 anos, ver aquele filme do 007 que tem a Hale Berry. Fofo, não? Nos meses restantes, nos falávamos por telefones de vizinhos, antes da minha avó comprar um telefone, que na época custava uma for-tu-na, tinha modelos de discar e era controlado pela CRT. E pra atestar mais ainda minha velhice: escreviamos cartas. As minhas eram sempre com papéis de carta ou folhas decoradas, com a minha letrinha irregularmente infantil, umas gotinhas de perfume roubado e muita saudade.

Quando fiz 18 e terminei o ensino médio, fui morar com minha mãe. Queria ter essa e outras experiências que até então não tinha provado. Sempre quis morar na praia, sempre quis morar com a minha mãe, sempre quis ir ao cinema mais de uma vez por ano. O problema é que descobrimos que não somos só parecidas fisicamente: o gênio ruim também é hereditário. Nesses três anos de convivência, brigamos bastante, nos testamos mutuamente e acho que ajudamos uma à outra à crescer um pouquinho. Toda a vez que eu quero ouvir a verdade de alguém eu pergunto pra ela. E sim, minha mãe sabe ser BEM imparcial.

Depois que me mudei pra Porto Alegre, muita coisa aconteceu na família, no meu mundo, no mundo dela  e acabamos nos afastando um pouco. E acho que a falta materna que eu senti pela minha vida inteira acabou explodindo com muita intensidade desses quatro anos pra cá. Por muitas vezes, tudo o que eu queria era correr pro colo da minha mãe e descansar um pouco a cabeça. Como tive poucas oportunidades de fazer, infelizmente.

Sei que ela confia em mim, mesmo me achando meio dispersa e não fazendo as provas de concurso público que ela tanto quer que eu faça, mas às vezes queria que ela se preocupasse mais. Sei lá, uma ligação por mês é difícil de engolir...É, minha mãe me liga uma vez por mês. E desconfio eu que seja só pra ter certeza de que eu ainda estou viva. Não, não queria uma relação de dependência que muitas pessoas tem com a sua, mas confesso que iria ser muito mais feliz se tu, Sra. Cleusa Regina, demonstrasse um pouco mais de interesse pela vida da tua confusa e #chatiada filha de 25 anos. E quando tu finalmente aprender a entrar num site, espero que tu leia isso e sinta muita, mas muita vergonha de, ainda por cima, me cobrar que eu não tenho um chip da Vivo e tu não tem cartão pra me ligar. Vergonha alheia define, Cleusinha.

E sugeriria também para nosso melhor entendimento a supressão dos seguintes tópicos:

1- A possibilidade inexistente de eu fazer um concurso público antes de me formar;
2- O fato da minha avó ainda me ajudar financeiramente;
3- Me lembrar de como sou exigente (?), como o tempo está passando e como eu estou encalhada. Se minha mãe faz isso estando eu na flor dos 25, se eu chegar aos 30 solteira, ela começa a vender meu dote no Mercado Livre. Se até lá ela descobrir o que é e pra quê serve o Mercado livre, é claro.

Mas apesar de tudo, faria qualquer coisa por ela e com certeza, sei que devo muito do ser humano que eu sou à esta enfezada criaturinha de um metro e meio, despenteada e constantemente mal-humorada, que é minha mammys.

Uma intensa escorpiana e uma teimosa taurina, nascidas pra ser mãe e filha. Almodóvar pode até imaginar, mas essa nem Freud explica.




domingo, 22 de julho de 2012

Dois estranhos


Dois estranhos chegaram acompanhados de dois amigos em um lugar cheirando à licor e cerveja.
Dois estranhos se entreolharam à meia-luz e deram um meio-sorriso. Ela olhou pro chão de madeira procurando por alguma ousadia por ali perdida, enquanto ele tentava fitar seus olhos em busca de uma resposta.
Palavras já eram desnecessárias, mas uma vez que a primeira delas foi pronunciada, tudo em volta ganhou uma nova cor, uma nova música, como se o som cada uma delas produzisse um novo encantamento.
Depois de copos vazios, sílabas gastas, uma verdade inconveniente e quase dois erros comuns, o inevitável toma a forma de um pegar de mãos hesitante e um beijo atrapalhado, que tornou-se perfeitamente exato três segundos depois.
Dois estranhos saíram pelas ruas abraçados como se se conhecessem a vida inteira, descobrindo cada pedaço de calçada e de si mesmos sem pressa, porque sabiam que aquela noite poderia durar uma vida no espaço de algumas horas inúteis.
Dois estranhos se olharam, sorriram, conversaram, se beijaram se abraçaram e prometeram nunca mais se ver.
Afinal de contas, eles nunca passaram mesmo de dois estranhos.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ces't la vie!

Odeio esse negócio de hora certa. Desconfio de horas que não se possam controlar pelo relógio. Tento me livrar da minha ansiedade-pão-com-cream-cheese, mas às vezes é inútil. É possível alguém gostar tanto da dúvida e  detestá-la com a mesma intensidade?

Preciso parar de pensar um pouco, tudo me deixa ansiosa ultimamente, tô me sentindo uma corda de violino: o mínimo toque me faz tremer. E ao mesmo tempo, preciso me planejar mais, parar de ser relapsa com coisas importantes. É quase como sentir antecipadamente o peso da responsabilidade sem assumí-las de verdade. 

O negócio é que eu ando precisando delas pra ser eu, bem, o "eu" que eu sou e quero ser. Porque já não sirvo mais para mim mesma, como antigamente. Agora tenho a necessidade de me acontecer pra vida, e não deixar a vida simplesmente acontecer. 

Nem cocaína, nem crack ou alguma outra dessas pílulas sintéticas modernas: hábitos são as drogas mais difíceis de largar, eles te fazem acreditar que precisa deles pra sobreviver. Mas como qualquer outra  dependência, só depende do "viciado" resolver o que vai ser: controlar ou ser controlado.

O fato é que pouca coisa me influencia ultimamente, além de mim mesma. Tanto que já não serve mais,e eu não sei se sinto falta da comodidade de querer coisas conhecidas ou me encanto com a possibilidade de pisar no escuro, em terrenos inóspitos. É engraçado que, por mais que as coisas não sejam como queremos, muitas vezes preferimos o que já sabemos onde vai terminar. Quem diria que a insegurança também pode ser boa?

O mundo é um alvo cravejado de tiros no escuro...

...ces't la vie!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A calça, os carboidratos e as escolhas (não necessariamente nesta ordem)

Carboidratos tem sido meus melhores amigos nesses últimos dias. Ando ansiosa, talvez por estar me acostumando novamente às responsabilidades e, consequentemente, às pressões de voltar à ter responsabilidades - leia-se "emprego" - depois de belos e preguiçosos cinco meses de férias forçadas em casa. Mas ao contrário da minha experiência anterior, essa tem me proporcionado dias muito felizes e um sentimento de "ufa, achei algo em que eu posso ser boa e me divertir ao mesmo tempo". Acho que no profissional as coisas começam a se encaminhar.

Claro que o buraco das minhas inquietudes vai um pouco mais fundo do que isso. Sabe aquele tipo de coisa que tu vai enrolando, vai escondendo, vai se auto-negando até que chega num ponto que tu não consegue mais levar adiante? Pois é.

Eu não sou o tipo de pessoa que se acha melhor que os outros, ou que não sabe reconhecer quem se importa comigo de verdade, apesar de às vezes parecer o contrário. Posso não demonstrar e às vezes até pagar de mal agradecida, mas não é.

Só que eu sou um ser humano normal: eu cresço, mudo, evoluo, tal como qualquer outro (ou pelo menos se espera que todos façam isso) e vou te dizer, crescer é complicado. Não é só ficar mais velha, ir pra frente do espelho pra arrancar os primeiros cabelos brancos com uma pinça e começar cogitar, e eu disse CO-GI-TAR, a possibilidade de usar cremes antiidade. É saber que no espaço limitado que a tua pele define, algumas coisas tem que ser deixadas pra trás, para dar lugar à outras que se encaixam melhor naquele momento. E é uma sensação péssima de culpa quando tu percebe o que não te faz mais bem ou não faz mais sentido manter.Certas pessoas, conversas e situações acabam que nem aquela roupa que tu tens há anos e guarda lá no fundo do armário: ela não cai mais bem, te deixa totalmente desconfortável, mas tu não consegue jogar fora. Pode ser até frieza comparar um relacionamento com o ato de "usar uma roupa", pessoas não são descartáveis, mas tal qual uma "calça bailarina" (quem lembra?), elas podem deixar de fazer sentido na teu dia-a-dia com o passar do tempo. 


E não pensem que é fácil aceitar que tu não vê mais graça nenhuma naquele teu amigo que te divertia horrores antes. No curso que um dia tu sonhou entrar. No cara que te fazia rir nervoso. É admitir que as tuas escolhas não foram permanentes, mesmo que elas tenham dado certo por um tempo, é preciso encarar que um dia o que foi o melhor, o mais incrível, hoje não é mais. Aí tudo tem que recomeçar, escolher novamente pra onde ir e quem levar junto, não sabendo se vai durar até à esquina ou até o fim do caminho. 

A calça mais linda que eu comprei eu usei tanto, mas tanto, que ela abriu dois rasgos no meio da perna faz seis meses. E há seis meses ela continua esquecida no canto do meu guarda roupa, enquanto eu penso em como posso dar um jeito pra não ter que me desfazer dela, apesar de saber que se eu mandar remendar vai ser pura perda de tempo e eu não vou mais usar de jeito nenhum. Não vai mais ser igual, não importa o que eu faça. Pra algumas coisas linha e agulha resolvem, pra outras nem a melhor costureira do mundo tem solução. E do que não vale mais à pena consertar, sempre ficam as lembranças e alguns fiapinhos presos no tapete.

Tentarei jogá-la no lixo amanhã. Ou vou comer outro sanduíche.



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma Alice em minha vida



Uma das coisas mais legais da minha infância, foi o incentivo à leitura que a minha família sempre deu. Eu lembro de ganhar livros antes mesmo de começar a ler. Adorava ver aquelas figuras bonitas e coloridas e imaginar tudo o que a estória estava contando. Depois que aprendi a decifrar o que elas diziam, minha fascinação por esse mundo só aumentou: era o meu passaporte pra visitar outras realidades e fantasias por aí à fora.

Um dos primeiros livros que ganhei foi o da "Alice no País das Maravilhas" e, por algum motivo, sempre foi o meu preferido. Talvez por fugir do clichê de "princesa-bela-e-frágil-é-maltratada-por-uma-bruxa-velha-e-malvada-e-come-o-pão-que-o-demo-amassou-até-ser-salva-por-um-lindo-príncipe-encantado-e-viver-feliz-para-sempre".  Claro que eu sonhava com os meus "príncipes" (a maioria deles com o nariz escorrendo e enlouquecendo a vida das professoras), mas o resto da maioria dos contos de fadas sempre foi regular demais. Quer dizer: é fácil separar a boazinha e bonita, a recalcada e feiosa e alguém que surge do nada, em um lindo cavalo branco, com o cabelo penteado e o sorriso trabalhado no Colgate Whitening, mesmo depois de diiias cavalgando (imagina o cheiro dessa criatura, acho que foi por isso que a Bela Adormecida acordou) atrás do seu grande amor, para livrá-la de todas as mazelas de sua triste sina de princesa amaldiçoada. É tudo  como se fosse uma máquina, com  movimentos minuciosamente controlados produzindo o mesmo objeto no final. É perfeito demais pra ser vida.

Claro que eu não tinha essa consciência com 7 anos de idade, mas sempre teve algo que não cheirava bem nessa história toda, e não estou falando só do príncipe. Eu sou filha de pais separados desde que tinha 1 ano de idade, então sabia que nem todos os casais eram felizes para sempre. Eu era gordinha, feinha e desajeitada, por isso percebi que nem todas as "bruxinhas" eram malvadas. E os guris que eu conhecia estavam muito abaixo da linha do SAPO, e desconfio que nem uma bitoquinha iria adiantar muita coisa pra melhorar a situação deles.

Já a Alice, ela sempre foi diferente. Curiosa, ela foi atrás do impossível: um coelho de casaca e que sabia ver as horas? Por que não? Aí ela entra numa viagem muito louca onde encontra os seres e lugares mais estranhos nunca imaginados, onde ela diminui de tamanho, cresce mais do que deveria e quase se afoga em suas próprias lágrimas. Todo o tempo ela se questiona, é questionada pelos outros, é condicionada à fazer coisas que não entende, mas no fim das contas é ela quem faz suas próprias escolhas e acaba salvando o dia. Ela é a princesa, é a bruxa, é "o príncipe valente", é a heroína e a autora da sua própria história.

Muito mais interessante, né?

E mais: os personagens que fazem parte do País das Maravilhas são mais reais, apesar nenhum deles existir realmente. Eles são loucos, sábios, arrogantes, extravagantes, medrosos,  gananciosos e compassivos...o que é mais humano do que isso? Aí dá pra ver um movimento que os outros contos de fadas não tem. E o que é a vida, se não puro movimento?

 Acho que eu tenho citado e refletido tanto sobre a Alice, porque o meu momento é tão transitório quanto a sua história. Já estou seguindo meus próprios coelhos, só resta saber aonde eles irão me levar.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fome de quê?

Oi!

Esse é um texto que escrevi faz um tempinho...mas como achei ele perdido em um dos meus muitos cadernos, resolvi compartilhá-lo. 



"Meia-noite e meia, episódio antigo de House (os melhores), classificados jogados ao lado, mentiras sinceras atiradas no ventilador: fome.

Já fiz todas as misturas possíveis que a minha despensa e meu organismo permitiriam, mas a danada não passa. Tenho a sensação que eu poderia liquidar com todo o meu estoque de comida, e mesmo assim ela vai continuar me torturando pela madrugada inteira. 

Estou com o estômago vazio e não sei o que fazer com isso. Abro a porta da geladeira de hora em hora, vejo que tenho mais do que preciso realmente. Mas o que eu quero, que aliás, eu não sei o que é, não é nada daquilo que está lá dentro ao meu alcance.

Fome de quê? Quando acontece isso, o que tu faz? Come o primeiro "engana-barriga" que encontra pela frente ou fica sentada esperando finalmente entender o que é, ou até mesmo, a vontade passar?

Posso até não saber o que vai preencher o buraco no meu estômago, mas acho que mereço bem mais do que uma pizza fria de ontem, daquelas com cara de que vai me deixar com gosto de queijo rançoso na boca. Aliás, ninguém merece."

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Som do Silêncio






Tenho estado mais introspectiva do que o normal ultimamente. Até porque o meu "normal" não é ser assim. Ou pelo menos não aparenta ser. Eu falo demais, transpareço demais, mas podem acreditar: não é nem 25% do que eu penso, do que eu quero fazer ou mesmo dizer. O que me causa problemas até pra dormir, os pensamentos pipocam sem parar na minha mente e, pra melhorar , eles adoram fazer isso principalmente à noite e somando com a minha enorme "alegria" de acordar cedo, dificulta muito as coisas pra mim. Sempre foi assim, e pelo visto ainda vai ser por muito tempo. 


É, eu penso muito. Por mais impulsividades que eu já possa ter cometido, não achem que foi por falta de reflexão. À não ser quando o álcool ou alguma paixonite me atingem o cérebro, o que bloqueia boa parte da minha racionalidade.


Engraçado, todo mundo estranha o meu sumiço repentino e o meu silêncio. Sou a única pessoa na face da terra que sente em prazer em ficar sozinha? Que precisa dar um "stop" no tempo pra avaliar as coisas à minha volta? Dar-se um tempo, hoje em dia, é quase sacrilégio. Tempo o mais novo é artigo de luxo. Precisamos produzir, fazer, correr, correr e correr...pra onde? A gente tem tanta urgência de chegar à algum lugar, mas não sabemos nem aonde estamos. E pra tudo isso, é preciso um bocado de auto-conhecimento. 


 Apesar de eu ter uma teoria de que os seres humanos, em determinadas situações, são imprevisíveis até pra eles mesmos, isso não impede que possamos explorar nossas possibilidades. E o que tem me fascinado (e assustado também) é perceber o quanto elas são múltiplas. Dentro de um universo amplo, mas não infinito, podemos muito, muito mesmo. Mas temos vozes que cochicham e nos olham de viés, que riem da nossa cara, que mudam de calçada quando passamos na rua. Tem gente que simplesmente não acredita nem em si mesmo, por que acreditaria em ti? 


Viver é um ato egoísta. Curta as pessoas que passam pela sua vida, ame mais ainda as que decidem ficar por algum motivo e retribua sempre que puder. Mas não espere por elas, nem delas. E não faça ninguém esperar por você ou de você. Nem tudo é perfeito e raríssimas coisas duram pra sempre. E as que sobrevivem é porque aceitam suas imperfeições. 


Enfim, posso resumir minhas últimas três semanas em dias de descobertas e reinvenções. De levar o lixo pra fora, queimar velhas cartas e tentar dar uma cara nova ao que me é caro demais para descartar definitivamente. Sensibilidade transpirando, algumas lágrimas transbordando e sorrisos me escapando, sem querer. Tarde de chá e noites de vinho, e às vezes tardes de vinho e noites de chá. Egoísmo e altruísmo apostando corrida de revezamento. Muitas perguntas, algumas respostas e cada vez menos certezas. Oito ou oitenta tem sido pouco pra mim. Dias de carro esporte: indo de 0 à 200 km/h em apenas segundos. E, qualquer que seja a velocidade, sei cada vez mais aonde estou.








  

quarta-feira, 14 de março de 2012

O primeiro post a gente nunca esquece

Olá!


Este não é o primeiro blog que eu tive, mas espero que seja o único em um longo tempo à partir de agora, ou até eu virar a cabeça pra outro lado de novo. 


É, eu sou uma pessoa de rompantes, a "criança com bicho carpinteiro". Quando tudo tá calmo demais, a coceirinha começa e eu tenho uma necessidade louca de fazer alguma coisa diferente, de mudar, nem que seja cortar o cabelo. Eu preciso sempre de ar fresco, descobrir uma música nova, de um elemento de esquisitice no meu dia-a-dia. Eu convivo com rotina até certo ponto. É que nem aquelas pessoas que a gente atura, mas não gosta. A nossa relação é  "oi" e "tchau", não procuro dar muito papo pra ela. Tenho medo que um dia a fulana me pegue desprevenida e me arraste pro seu mundo de mesmice e normalidade. 


Se é que esse negócio existe... O que é ser normal? Esse é um conceito ao qual ninguém NUNCA vai chegar à um consenso. Simplesmente porque é invenção da nossa cabeça ou de alguma dessas agências de publicidade por aí. O "normal" é que nem o E.T. de Varginha: uns juram que viram, alguns acreditam no boato e outros acham que é papo de maluco. Mas provar a existência de verdade, ninguém provou até hoje. 


A gente tem é que evitar se rotular, encaixotar a nossa essência dentro de pré-definições limitadas. Não é incrível poder discutir, questionar, aceitar, discordar, concordar, mudar de idéia, sustentar a opinião, voltar atrás, seguir em frente, permanecer, dizer, contradizer, viver e contraviver? Ninguém é super-herói, mas temos um super poder fantástico: o de escolher. E é ele que sempre acaba salvando o dia - e a nossa vida.


Eu criei esse canto pra compartilhar as minhas escolhas, angústias, alegrias, poesias, os frutos da minha imaginação maluca e tudo o que, de certa forma, me "toca" de algum jeito. O que me lembra uma citação da Clarice Lispector, que é uma das escritoras que mais mexe comigo:


"Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão; tranquilidade e inconstância; pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer...
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca."

E eu quero muito que alguma coisa aqui "toque" vocês. Sejam muito bem-vindos! ;)