quinta-feira, 28 de junho de 2012

A calça, os carboidratos e as escolhas (não necessariamente nesta ordem)

Carboidratos tem sido meus melhores amigos nesses últimos dias. Ando ansiosa, talvez por estar me acostumando novamente às responsabilidades e, consequentemente, às pressões de voltar à ter responsabilidades - leia-se "emprego" - depois de belos e preguiçosos cinco meses de férias forçadas em casa. Mas ao contrário da minha experiência anterior, essa tem me proporcionado dias muito felizes e um sentimento de "ufa, achei algo em que eu posso ser boa e me divertir ao mesmo tempo". Acho que no profissional as coisas começam a se encaminhar.

Claro que o buraco das minhas inquietudes vai um pouco mais fundo do que isso. Sabe aquele tipo de coisa que tu vai enrolando, vai escondendo, vai se auto-negando até que chega num ponto que tu não consegue mais levar adiante? Pois é.

Eu não sou o tipo de pessoa que se acha melhor que os outros, ou que não sabe reconhecer quem se importa comigo de verdade, apesar de às vezes parecer o contrário. Posso não demonstrar e às vezes até pagar de mal agradecida, mas não é.

Só que eu sou um ser humano normal: eu cresço, mudo, evoluo, tal como qualquer outro (ou pelo menos se espera que todos façam isso) e vou te dizer, crescer é complicado. Não é só ficar mais velha, ir pra frente do espelho pra arrancar os primeiros cabelos brancos com uma pinça e começar cogitar, e eu disse CO-GI-TAR, a possibilidade de usar cremes antiidade. É saber que no espaço limitado que a tua pele define, algumas coisas tem que ser deixadas pra trás, para dar lugar à outras que se encaixam melhor naquele momento. E é uma sensação péssima de culpa quando tu percebe o que não te faz mais bem ou não faz mais sentido manter.Certas pessoas, conversas e situações acabam que nem aquela roupa que tu tens há anos e guarda lá no fundo do armário: ela não cai mais bem, te deixa totalmente desconfortável, mas tu não consegue jogar fora. Pode ser até frieza comparar um relacionamento com o ato de "usar uma roupa", pessoas não são descartáveis, mas tal qual uma "calça bailarina" (quem lembra?), elas podem deixar de fazer sentido na teu dia-a-dia com o passar do tempo. 


E não pensem que é fácil aceitar que tu não vê mais graça nenhuma naquele teu amigo que te divertia horrores antes. No curso que um dia tu sonhou entrar. No cara que te fazia rir nervoso. É admitir que as tuas escolhas não foram permanentes, mesmo que elas tenham dado certo por um tempo, é preciso encarar que um dia o que foi o melhor, o mais incrível, hoje não é mais. Aí tudo tem que recomeçar, escolher novamente pra onde ir e quem levar junto, não sabendo se vai durar até à esquina ou até o fim do caminho. 

A calça mais linda que eu comprei eu usei tanto, mas tanto, que ela abriu dois rasgos no meio da perna faz seis meses. E há seis meses ela continua esquecida no canto do meu guarda roupa, enquanto eu penso em como posso dar um jeito pra não ter que me desfazer dela, apesar de saber que se eu mandar remendar vai ser pura perda de tempo e eu não vou mais usar de jeito nenhum. Não vai mais ser igual, não importa o que eu faça. Pra algumas coisas linha e agulha resolvem, pra outras nem a melhor costureira do mundo tem solução. E do que não vale mais à pena consertar, sempre ficam as lembranças e alguns fiapinhos presos no tapete.

Tentarei jogá-la no lixo amanhã. Ou vou comer outro sanduíche.